quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

4300) Alguns livros de 2017 (28.12.2017)




Não faço listas dos “melhores do ano”, porque como não trabalho no jornalismo cultural não tenho a obrigação de ler os lançamentos recentes. Leio mais livros antigos do que livros recentes, não porque menospreze a literatura contemporânea, mas porque os livros antigos têm um histórico de referências, que despertam minha curiosidade. O que se segue abaixo é o registro de alguns bons livros que li este ano, por ordem aproximadamente cronológica. Ainda pretendo escrever mais a vagar sobre alguns deles.



Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, de Lima Barreto. O romance é um retrato de um intelectual mais velho feito por um amigo mais jovem, e de quebra uma série de quadros vívidos sobre o centro e o subúrbio do Rio de Janeiro, cheios das observações originais e bem argumentadas do autor. É um livro crepuscular e humano, menos satírico que Isaías Caminha ou Policarpo Quaresma, menos cruel do que Clara dos Anjos.



Os Invisíveis 1, de Grant Morrison. Uma das coisas mais curiosas nas HQ é o filão que mistura ficção científica e ocultismo, com rupturas brutais no tempo e no espaço. Pretendo avançar mais nesta série que tem algo de Philip K. Dick  e da “gonzo fantasy” de Tim Powers.



Circo Nerino, de Roger Avanzi e Verônica Tamaoki. Pesquisando sobre circos, peguei com Eduardo Rios (o Escaramuça do Suassuna - o Auto do Reino do Sol) este álbum notável com a história (numa profusão de fotos excelentes) de um dos grandes circos brasileiros, que infelizmente nunca frequentei. (“Meus” circos foram o Tihany, o Gran Bartholo e o Garcia.) Biografias de inúmeros artistas, episódios curiosos, viagens pelo Brasil inteiro (há inclusive transcrição de um artigo de Ednaldo do Egypto, quando o circo passou pela Paraíba.)


The Life Cycle Of Software Objects, de Ted Chiang. Não sei ainda se vai ser este o título da coletânea de contos de Chiang (o autor de “A Chegada”, filmado por Denis Villeneuve) que traduzi para a Intrínseca. É um dos melhores contistas da FC contemporânea, um dos meus preferidos, e este volume, embora sem o peso de Stories of Your Life and Others, recheado de clássicos, tem histórias excelentes como “The Merchant at the Alchemist’s Gate”, uma narrativa de viagem no tempo no universo das Mil e Uma Noites. (A capa acima é da edição isolada do conto-título.)



Red Harvest, de Dashiell Hammett. O romance de estréia de Hammett é um clássico em que o Continental Op, o detetive anônimo, chega a uma das cidades mais corruptas do país e joga todas as quadrilhas dentro de um frenesi de extermínio recíproco. Política, mentira, traição, ação constante e uma versão cruel do “jeitinho americano” de liquidar bandidos.



Consternação, de Jadson Barros Neves. Contos ambientados principalmente na região do garimpo de Tocantins, uma fronteira rude com garimpeiros, pistoleiros assalariados, indivíduos sem rumo e sem escrúpulos, crimes passionais, assassinatos por dinheiro. Histórias ganhadoras de prêmios literários no Brasil e fora dele.




Conclave e Munich, dois romances de suspense de Robert Harris (o autor de Enigma), que traduzi para a Companhia das Letras. Harris tem um estilo seco, enxuto, detalhado e rápido que dá inveja. O primeiro livro é sobre os bastidores da eleição de um Papa; o segundo, sobre uma conspiração para matar Hitler durante a Conferência de Munique de 1938.


Now Wait For Last Year, de Philip K. Dick. Traduzi para a Suma de Letras este romance de Dick, que eu não tinha lido ainda. Achei uma ótima narrativa, meio desconcertante devido a freqüentes saltos irregulares no Tempo. Tem um dos melhores personagens messiânicos de PKD, Gino Molinari, líder da Terra numa guerra interestelar; drogas mirabolantes, um casamento cruelmente disfuncional e a empatia dickiana em alguns dos seus momentos mais verdadeiros.


A Hipótese Humana, de Alberto Mussa. Um romance policial ambientado no Rio do século XIX, com boas descrições de ambientes e tipos. Parte de uma série que fiquei com vontade de conhecer melhor.


The Edge Of Running Water, de William Sloane. Um romance esquecido de um autor bissexto, de quem eu já li e comentei To Walk the Night (aqui: https://tinyurl.com/yajmdedc). Sloane é um excelente escritor, e esta história tem momentos arrepiantes numa mistura entre FC e sobrenatural.


O Fogo Na Floresta, de Marcelo Ferroni. Um romance ambientado no mercado editorial (uma editora que está sendo comprada e reformulada por um grande grupo econômico), com uma protagonista que se debate de forma alternadamente cômica e trágica nos absurdos do mundo corporativo, do casamento, do adultério, das catástrofes financeiras, da maternidade e do cuidado com os pais idosos, tudo ao mesmo tempo como na vida real.


The Drowned World, de J. G. Ballard. Um dos primeiros romances-catástrofes de Ballard, mostrando uma Inglaterra submersa pelo aquecimento global, transformada num pântano semelhante aos do período Triássico.


Presos No Paraíso, de Carlos Marcelo. Um romance policial ambientado em Fernando de Noronha com algumas reviravoltas hábeis de enredo, recriação eficaz de ambiente humano e geográfico e uma alternância de pontos de vista que ajuda o leitor no esforço detetivesco. Do mesmo autor de O fole roncou, perfil histórico do forró nordestino.

Registro também os numerosos bons livros de poesia que li ao longo do ano, e destaco estes: João Paraibano, O Herdeiro Dos Astros (org. Ézio Rafael, Marcos Passos e Santanna o Cantador), Servir A Quem Vence (Astier Basílio), Velório Sem Defunto e Aprendiz De Feiticeiro (Mario Quintana), Miolo Da Rapadura (Klévisson Viana), O Vendedor De Berimbau (Chico Pedrosa), A Desmedula da Seta (Alan Mendonça), O Mínimo Possível (Adriano Cabral).

Além destes, outros livros interessantes que comentei neste blog durante o ano:

O Espírito Da Ficção Científica, Roberto Bolaño

No Tempo De Almirante, Sérgio Cabral

A Lua Vem Da Ásia, Campos de Carvalho

Santaninha, Arievaldo Vianna e Stélio Torquato

O Bigode, Emanuel Carrère.

O Horlá, Guy de Maupassant.

Baudolino, Umberto Eco

Mar Paraguayo, Wilson Bueno

Incrível! Fantástico! Extraordinário!, Almirante

Malpertuis, Jean Ray

The Yiddish Policemen’s Union, Michael Chabon.














4 comentários:

Adriano Cabral disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Adriano Cabral disse...

Caro Braulio Tavares,fico grato pela menção do meu livro de "poemínimos" em sua lista de livros de poesia de 2017.Pra mim,foi motivo de grande alegria.Estou sempre aqui, acompanhando o seu blog e postagens do facebook.Forte abraço!Vamos em frente!
Adriano Cabral

Anônimo disse...

Braulio Tavares, desconhecia o seu blog e, pelo que estou vendo, em rápida olhadela, é altamente enriquecedor. Encontrei-o agora por intermédio de uma postagem no face de uma ex-aluna. Você transita em várias áreas e pretendo acompanhá-lo com vivo interesse. Fraternos cumprimentos desejando-lhe que sempre novos horizontes literários e culturais me sejam desvelados pelo seu blog. Dalma Nascimento.

Como sou "analfabeta' em signos de computação, estou meio perdida no correto caminho a seguir. Evidentemente não sou robô e quanto à escolha da identidade permaneço, igual a Teseu, perdida no labirinto. Não encontro o fio de Ariadne.Estou na encruzilhada, tentando, tentando...

kili disse...

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