quarta-feira, 6 de abril de 2016

4095) Falando paraibano (7.4.2016)



No capítulo da fala paraibana (ou nordestina), tenho recorrido às minhas anotações para ver até que ponto certas expressões que sempre me pareceram “nossas” são brasileiras de ponta a ponta. Ou se (caso também possível) são nordestinas mesmo, mas as migrações e as trocas culturais já as espalharam pelo resto do país. Aqui vão mais alguns verbetes do meu inédito Dicionário Paraibano.

“Amarrar o cocó”. Diz-se de quando a chuva torna-se mais forte e mais cerrada, ameaçando durar por muito mais tempo. “Eu estava pensando em ir pra casa, mas agora a chuva amarrou o cocó e acho melhor dormir aqui mesmo.”

“Desconfiado que só cachorro em bagageiro de bicicleta”. “Desconfiado”, no caso, vem no sentido de “pouco à vontade, inseguro, receoso”.  No Rio usa-se muito uma variante: “Desconfiado que só cachorro que caiu da mudança.”

“Dar uma subida”. Passar uma descompostura; repreender alguém com veemência e agressividade.  “Quando eu cheguei atrasado no primeiro dia de trabalho, o cara me deu uma subida na frente do escritório todo, morri de vergonha.”  Tem relação com a expressão “subir de tamanco”, que tem sentido semelhante: “Com Fulano a gente tem que subir de tamanco nele de vez em quando, senão ele bota tudo a perder.”  É frequente usar complementos exagerados: “Ele subiu de tamanco e desceu de botina em cima do porteiro, porque ele dormiu e deixou a porta aberta.”

“Carrego (ê).” Pessoa complicada, com energia negativa, que só atrai problemas e confusões.  “Fulano é um carrego muito grande, quando ele senta na mesa eu vou logo perguntando quanto foi minha parte na conta”.  Tem ligação com expressões como “Aquele ambiente é muito carregado”, ou “Vou tomar um banho de sal grosso pra descarregar”.

“Bufo-bufo”. Onomatopéia usada no futebol: é o jogo à base de chutões para a frente e muita correria. "Eu não sei qual foi o milagre desse técnico pra fazer o Treze baixar essa bola, o Treze sempre foi um time de bufo-bufo."

“Até meia noite.” Modo brincalhão de confirmar uma data perguntada por alguém. "-- Hoje é sábado?...  -- Até meia-noite!"   Tem relação com o hábito de pessoas do tipo "idiotas da objetividade", que, quando alguém diz: "O aniversário de Fulano é amanhã", o sujeito exibe o relógio num inexplicável gesto de triunfo: "Amanhã, não!  Hoje!  Já passou de meia-noite!" Reflexo da substituição da noção natural de dia, que se inicia ao nascer do sol, pelo dia conceitual, que se inicia à meia-noite. 

“Despranaviar”. Cair na farra, cair na gandaia.  “O carnaval está chegando, eu agora quero é despranaviar”.   Termo popularizado pelo Coronel Ludugero, personagem criado por Luiz (pai de Lula) Queiroga.