segunda-feira, 4 de abril de 2016

4093) Briga de cachorros (5.4.2016)



A Teoria dos Jogos é uma das partes mais interessantes da matemática, até porque em seu estágio básico é de fácil compreensão por qualquer pessoa capaz de entender as regras do par-ou-ímpar ou do xadrez. 

Ela consiste basicamente em examinar, no contexto de um jogo qualquer (uma ação recíproca, disputando objetivos antagônicos, com regras claras e fixas, dependendo de avaliações e decisões), quais as chances de (por exemplo) vitória de A, empate ou vitória de B. 

Daí parte-se, é claro, para um enorme barroquismo de hipóteses e cálculos cada vez mais complexos. Em todo caso, da guerra às especulações financeiras, dos esportes à política, me parece que as aplicações práticas são inúmeras e utilíssimas.

Existe toda uma formalização lógica para avaliar situações como conflito de interesses, alianças, relação custo/benefício em diferentes ações possíveis, gratificação, punição... A Teoria dos Jogos é de certa forma o folhetim de matemática, o melodrama da lógica, onde se parece lidar com emoções violentas o tempo inteiro.

A Teoria dos Jogos faz a análise lógica das situações de conflito. Anatol Rapoport, no entanto, faz esse comentário: 

“Inexistem considerações de ordem estratégica numa luta de cães. Este conflito pode ser melhor visualizado como uma sequência de eventos, cada um dos quais deflagra o seguinte.”  

Ou seja: quando um conflito humano está açulado a esse ponto, ele está sendo desencadeado por pessoas tão fanaticamente resolutas a não se deixar derrotar que qualquer interpretação lógica de suas ações vai ser em vão.

Ficam os analistas, em situações assim de pandemônio, tentando aferir o peso estratégico desta ou daquela ação, mas é como interpretar como intencional o trajeto errático de um avião recém-alvejado. Uma tarefa tão sem sentido quanto a de um locutor de futebol tentando transmitir, como se fosse um jogo, uma batalha campal entre os dois times.

A política em tempos de paz é um jogo, mas ela tem seus momentos em que ferve até virar luta. Diz Rapoport:

“A motivação de uma luta é a hostilidade. O objetivo é eliminar o oponente, que se afigura como um estímulo nocivo. (...) A inteligência, no sentido da capacidade de calcular, da previsão e comparação de cursos de ação alternativos, não tem a desempenhar, como geralmente não o faz, nenhum papel numa luta.”

Interessa a alguém fomentar lutas num contexto que desfavoreça a inteligência. Num contexto em que os estúpidos e bitolados se movimentem mais à vontade, onde a disputa deixa de ser um xadrez entre cavalheiros de diferentes persuasões ideológicas e se transforma no que tanto nos aterra e nos mesmeriza assistir: uma briga de cachorro grande.