quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

4016) Livros do ano 6 (6.1.2016)



Neste balanço das leituras do ano constato que li pouca coisa dos meus gêneros preferidos, policial e ficção científica. Em colunas anteriores comentei, em outros contextos, alguns livros de FC/fantástico (A Guerra dos Mundos, High Rise, Ensaio sobre a Cegueira). Tenho que mencionar dois livros que não só li como traduzi, o segundo e o terceiro volumes da trilogia “Comando Sul” de Jeff VanderMeer, da Editora Intrínseca: Autoridade e Aceitação (este deve sair em 2016). VanderMeer criou um pesadelo tarkovskyano sobre um contato alienígena com a Terra, numa narrativa complexa, com diferentes pontos de vista de personagens inesquecíveis. É uma trama tão cheia de mistérios e de detalhes que pretendo reler os três livros como se fossem um só, daqui a algum tempo.

The Black Room de Colin Wilson (1971; lido em fevereiro) é um thriller de espionagem com base ligeiramente FC: técnicas de lavagem cerebral através do uso do “quarto negro”, uma câmara de privação dos sentidos. Como sempre, Wilson é melhor no romance policial do que na FC; este thriller tem algo de John Le Carré e seu final brusco obriga o leitor a deduzir tudo que vem depois. E terminei a leitura de The Strength to Dream: Literature and the Imagination (1962; lido em fevereiro), onde Wilson faz um balanço meticuloso de dezenas de autores mainstream cuja obra roçou pelo fantástico, além de autores fantásticos típicos como Lovecraft.

Fiz para a editora Aleph um posfácio para O Planeta dos Macacos (1963; lido em março), que me lembrou mais uma vez a necessidade de conhecer melhor a FC francesa, cujos autores se influenciam pela FC dos EUA com tanta independência, tanta antropofagia. Tenho o hábito de não deixar passar um ano sem ler um livro novo de Philip K. Dick: este ano foi a coletânea The turning wheel (1977; lido em março). Acho que Dick era mais pulp fiction nos contos e mais literariamente articulado nos romances. O lado bom dos contos é que ele podia dar rédea solta a algumas idéias completamente surreais, sem se preocupar muito.

Por fim, acabei lendo poucas HQs fantásticas no ano. Gostei bastante de O Perfura-Neve (1984; http://tinyurl.com/knyjsjw) de Lob, Rochette e Legrand, um épico de futuro apocalíptico em três partes, que mudou de estilo e grafismo ao longo da publicação seriada; Da Terra à Lua (2014) de Estêvão Ribeiro, fundindo duas narrativas clássicas de Verne e Wells; Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente (2011) de Lourenço Mutarelli, um episódio absurdista e burroughsiano; e Uzumaki, a Espiral do Horror (1998-99) de Junji Ito, um horror com sombras de Poe e grafismo de tirar o sono.