sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

407) Cinco surpresas (7.1.2016)



Em plena crise institucional, com a imprensa pedindo sua cabeça e o embaixador norte-americano garantindo que não haveria intervenção, o Presidente da Ruritânia convoca uma reunião extraordinária com todo o seu Ministério. Ao tomarem assento no Salão Azul, ele percebe a presença de três ou quatro cavalheiros que nunca vira mais gordos. Chama o Ministro da Casa Civil, faz-lhe a pergunta, discretamente, e recebe como resposta: “São os novos Ministros que o senhor vai empossar amanhã”.

Ferdinando teve uma crise súbita de labirintite e saiu do escritório no meio da tarde. O celular da esposa dava desligado ou fora de área. Ao entrar em casa, ouviu ruídos, e depois um silêncio esquisito. Foi direto ao quarto, abriu a porta. A esposa estava nua, pulsos e tornozelos atados às colunas da cama. Ele teve um sobressalto de susto e ela gritou: “Primeiro de abril!!!”. Estavam em meados de setembro.

Flávio estava elaborando um documento jurídico qualquer, e precisou do Dicionário Latino, no qual não pegava desde o tempo da faculdade. Ao folhear o volume, caíram de dentro dele os dois ingressos para o show de Bob Dylan no Imperator, em 1991, os mesmos ingressos que anos antes ele procurara em vão nos bolsos, esbaforido, apavorado, diante dos olhos blasê da possível namorada que logo em seguida deu um muxoxo, pegou um táxi ali mesmo e sumiu para sempre.

Aos 17 anos, Fábio Luís ainda era obrigado pelos pais a ir a todos os lugares onde eles iam. Naquela noite foram ao aniversário de um tio, cinquentão e divorciado. Durante as intermináveis rodadas de pizza diante da TV e do “Fantástico”, o tio segredou ao seu ouvido: “Tá a fim de um fuminho? Bora lá no quintal”. Ele esperou alguns minutos depois do tio sumir e se esgueirou sem ninguém ver, por entre a escuridão cheia de goiabeiras. Encontrou o tio junto à parede de um depósito de lenha. Sussurrou: “E aí, cadê o bagulho?”. O outro o abraçou soluçando: “Não tem bagulho, tem amor, somente amor, para quem aceite ser amado.”

Sebastião foi arregimentado para botar sanfona em duas ou três faixas de um álbum da banda Asa Amarela. Tímido, foi apenas no último dia que ele criou coragem para mostrar ao líder do grupo, Arleysson Pantera, seu forrozinho inédito “Volta Meu Bem”. Foi tiro e queda, aprovação unânime, tudo a ver com o repertório, a banda aprendeu na manhã seguinte, a música foi gravada à tarde. Um mês depois, Sebastião viu na vitrine da loja o CD, e nem esperou que alguém lhe mandasse um, entrou e foi logo comprando, rasgando o celofane, inebriado pela felicidade de ver pela primeira vez seu nome como autor de uma música gravada profissionalmente num disco de verdade.





3 comentários:

sonianeusa disse...

Bráulio, meu primo, você é talentoso demais, cara! Escreve que é uma beleza.

DSD disse...

Que maravilha de texto. Sou leitor assíduo da coluna.

Ariosvalber - Tessituras das Histórias disse...

Maravilha! Parabéns, Bráulio. Mais um texto primoroso, os(as) leitores (as) agradecem. Muita saúde e inspiração para você!