terça-feira, 26 de maio de 2015

3824) PlayStation Terra (27.5.2015)



(O 13o. andar)

Bato nessa tecla há trinta anos. O mundo em que vivemos não existe, ou pelo menos não existe como imaginamos. O planeta Terra; a humanidade e a histórias de suas civilizações; a cidade em que vivemos; as pessoas que conhecemos; a nossa vida no dia a dia – tudo isso não passa de uma simulação. Nossa consciência foi ativada artificialmente por seres mais poderosos do que somos capazes de imaginar.  E eles nos acompanham com o interesse (e o tédio eventual) de quem joga um videogame ou de quem roda no computador uma simulação para avaliar processos e resultados.

Essa idéia familiar à geração “Matrix” surgiu para mim quando li o romance Simulacron-3 de Daniel F. Galouye (adaptado para o cinema como O 13º. Andar, de Josef Risnak, 1999).  A FC explorou de mil maneiras este tema do indivíduo que descobre que seu mundo não é real, é uma simulação feita em computador, e que ele próprio não existe, é apenas o resultado de um conjunto de instruções.

Agora, Rich Terrile (cientista do Centro de Computação Evolucionária e Design Automativo, no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa) sugere que esse gigantesco projeto simulatório não é obra de alienígenas, mas de pessoas do futuro (aqui: http://tinyurl.com/cpmoqgs). Diz ele: “A cada 6 ou 8 anos surge uma nova versão do PlayStation. Nossa expectativa é de que em 30 anos uma versão, que deverá ser PlayStation 7, será capaz de computar cerca de 10 mil vidas humanas simultaneamente, em tempo real, ou uma vida humana completa em cerca de uma hora. Quantos PlayStation há no mundo? Uns 100 milhões. Pense em 100 milhões de consoles, cada um contendo 10 mil humanos. Conceitualmente, teremos mais humanos vivendo em PlayStations do que os humanos de carne e osso que existem hoje na Terra”.

Terrile ecoa uma frase famosa de Philip K. Dick ao dizer que a realidade não está toda pronta ao mesmo tempo, mas em forma potencial, e só se concretiza quando alguém a observa (como a Física Quântica tem demonstrado em relação ao mundo sub-atômico). Terrile compara o mundo a um jogo como a cidade de Grand Theft Auto IV: Liberty City, que seria um milhão de vezes maior que a capacidade do console, se existisse toda ao mesmo tempo. Acontece que cada trecho da cidade só aparece quando o jogador vai para lá – é como um cenário escuro e um ator andando, sob o facho de um holofote. O que não está sendo iluminado pelo holofote deixa de existir, até ser iluminado novamente. Cada um de nós viveria no seu circulozinho de luz, que se tornaria mais real, mais encorpado, quando muitos interagissem na mesma área. Talvez o nosso presente seja o passatempo sádico dos nossos tataranetos do futuro.