quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

3993) "Rubber Soul" (10.12.2015)



Estamos celebrando os 50 anos do lançamento de Rubber Soul, o disco que tornou-se uma esquina na carreira dos Beatles. Foi quando eles pararam de fazer shows e se fecharam nos estúdios, cujos recursos estavam começando a descobrir. Há versões diferentes do álbum na Grã-Bretanha e nos EUA. No Brasil, a versão que foi lançada (a que ouvi até furar) era a que abria no lado 1 com “Drive My Car” e fechava com “Michelle”, enquanto o lado B abria com “What Goes On” e fechava com “Run For Your Life”. É a essa edição que me refiro quando falo no disco.

Foi neste disco que os Beatles lançaram sua cítara indiana (“Norwegian Wood”) e sua própria versão da guitarra com distorção (“Think For Yourself”, gravada em novembro), logo depois que os Rolling Stones lançaram “Satisfaction” em outubro, com o famoso riff de Keith Richards.

Aqui no Brasil uma coisa que deve ter contribuído para a popularidade do álbum são as versões brasileiras que tiveram muito sucesso, como as de Ronnie Von para “Girl”, de Renato e Seus Blue Caps para “You Won’t See Me” e “Run For Your Life”, dos Golden Boys e de Agnaldo Timóteo para “Michelle”.

Em termos de letra, de imageria poética, “In My Life” é o primeiro elo de uma corrente nostálgica que se prolongaria tanto na “Penny Lane” de McCartney quanto no “Strawberry Fields” de Lennon. Ian McDonald diz que a psicodelia britânica era acima de tudo um retorno à infância. Uma infância talvez imaginária, mas feliz.

Lennon já disse detestar canções como “Run For Your Life”, e não sei como seria recebida hoje em dia uma canção dizendo “Olhe aqui, garota, prefiro ver você morta do que lhe ver com outro cara”. Lennon, como qualquer teddyboy de sua geração, era metade machista metade inocente. Depois, na sua fase feminista em Manhattan, ele depreciava a letra, a canção inteira. Mas a mente ciumenta daqui é a mesma de “Jealous Guy” anos depois, o que muda é o tratamento que o ciúme recebe. E só um sujeito reconhecidamente famoso por seu sarcasmo e cara-de-pau, como Lennon, teria crédito para dizer anos depois: “Eu estava inseguro, pensei que você talvez não me amasse mais”. “Run For Your Life” é um rockinho bobo mas seu refrão é muito bom, e ela já foi explorada em desenhos animados, etc.

E de fato essa música não é a cara dele, a cara dele é “Nowhere Man”. Talvez a gente nunca saiba com certeza, mas Lennon afirmava que essa música era uma espécie de estalo-de-Vieira ou maçã-de-Newton dele, quando ele descobriu que podia transformar numa canção uma coisa real que estava sentindo. Foi quando ele começou a considerar a letra algo mais do que uma roupa para que a música não saísse desfilando nua por aí.




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