quarta-feira, 14 de outubro de 2015

3945) Eu me lembro - 6 (15.10.2015)



Eu me lembro do cheiro do ambiente do caldo de cana Macaíba, e das páginas de revistas com curiosidades, mistérios e bizarrices, emolduradas, na parede da sinuca O Gato Preto. 

Eu me lembro que em Campina Grande já se fabricou a cachaça “Galo da Borborema”; eu tinha uma garrafa em casa, da qual derramei o primeiro conteúdo e substituí por Rainha. 

Eu me lembro de uma foto (na Manchete ou no Cruzeiro) mostrando que o número 1961 continuava o mesmo se fosse virado de cabeça pra baixo.

Eu me lembro que o primeiro lugar em que se venderam livros de bolso em Campina foi no Abrigo Maringá. 

Eu me lembro quando a comitiva presidencial com Juscelino em carro aberto passou pela nossa casa subindo a rua Miguel Couto, rumo ao centro. 

Eu me lembro de uma mendiga de chapéu que pedia esmolas de pé na Rua Maciel Pinheiro; ela tinha o rosto deformado e eu, que teria uns dez anos, morria de medo de avistá-la.

Eu me lembro de quadrinhos de Gabby Hayes, C.B., Morcego Negro, Flecha Ligeira, Flecha Certeira, Rocky Lane e Falcão Negro, o qual depois eu soube ser criação do paraibano Péricles Leal. 

Eu me lembro de um cachorro doido nos poços das lavadeiras no Alto Branco, e quem o matou de espingarda foi nosso vizinho Zezinho Buraco, ex-zagueiro do Treze. 

Eu me lembro dos animais empalhados na vitrine da loja Palacinho da Criança. 

Eu me lembro da caixa de sapatos cheia de diferentes tabelas da Copa de 1966 que eu guardava embaixo da cama.

Eu me lembro de Mário Rogério e seus amigos cantando e tocando violão à noite, no alto do edifício Abdallah, a alguns metros do portão da nossa casa na rua Padre Ibiapina. 

Eu me lembro da cartola do Preguéto, do cachorro quente do Cisne Lanches, do sorvete da Capri e da cabeça-de-galo de Zuzu. 

Eu me lembro do fim das terças-feiras de Carnaval no Gresse, quando, ao amanhecer da 4a.feira de Cinzas, a orquestra descia a ladeira tocando rumo à Praça da Bandeira, onde Ivan Gomes atirava os bêbos dentro da fonte.

Eu me lembro do cheiro de compensado dos palcos e dos bastidores da TV no Recife, e de como o palco parecia pequeno quando a gente entrava nele. 

Eu me lembro do baterista que tinha sido mordido de cachorro doido e agora tinha que tomar injeções na barriga. 

Eu me lembro dos certificados de censura dentro de envelopes pregados à face interna da tampa das latas de filme em 35mm, e que o gerente deixava a gente ler e anotar. 

Eu me lembro das pessoas que trabalharam com meu pai: Edson da Federação, Seu Sebastião contínuo, depois Seu Lisboa motorista, Albanisa a eterna secretária. 

Eu me lembro do garçom Espanha, do taxista Luizinho e de Henrique da banca de revistas do Calçadão.




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