sexta-feira, 19 de setembro de 2014

3608) O Apocalipse do Metano (19.9.2014)



Anos atrás lançaram um livro de divulgação científica (acho que era de Isaac Asimov) intitulado Escolha a Catástrofe. Cada capítulo tratava de uma forma possível para o fim do mundo: guerra nuclear, choque com asteróides, elevação dos oceanos, etc.  Ando curioso para saber se o tal livro previa uma possibilidade que agora reencontro a todo instante na imprensa: o Apocalipse do Metano. 

Meu conhecimento de química é zero. Se eu falar alguma barbaridade não me execrem, mas como parte da opinião pública tenho o direito de compartilhar as razões da minha insônia. O metano é uma delas. Quantidades absurdamente grandes desse gás estão acumuladas no subsolo e nas águas. Em muitas regiões, principalmente em volta do Ártico, o gás está confortavelmente represado abaixo de uma espessa camada de gelo, que não o deixa escapar.  O problema é que com o aquecimento global o gelo (ou, mais tecnicamente, a camada de permafrost, “solo permanentemente congelado”) está se adelgaçando. Quanto mais fina fica, mais sujeita fica a uma quebra, que deixaria escapar uma grande quantidade de gás, numa explosão de baixo para cima.

Não é outra (li por aí) a origem daqueles misteriosos buracos que estão aparecendo na Sibéria, com dezenas de metros de diâmetro e uma fundura a perder de vista. O metano está comprimido, querendo escapar, e em qualquer ponto onde a barreira enfraqueça ele pipoca com gosto de gás. Há poucos anos vi um documentário sobre isto no The History Channel (OK, concordo que é um canal meio sensacionalista). A catástrofe me pareceu tão iminente que me desencadeou uma crise aguda de ternura pela humanidade e amor à existência. Abracei todo mundo da minha família, telefonei para amigos que não via há anos, comecei a me despedir da vida.

O metano me poupou, mas não sei até quando, principalmente depois de ver essa entrevista de uma cientista, que me pareceu bastante pessimista, até que comecei a escutar os apartes de um colega dela na platéia, que a achava otimista demais. (Veja aqui: http://tinyurl.com/n6ds54b). “Poucas décadas” é o tempo de vida que resta à humanidade, segundo eles, se for liberado apenas 1% (um por cento) do metano represado embaixo da terra.

De qualquer modo, foi bonito.  Tivemos momentos como a Grécia de Péricles, o impulso civilizatório do Império Romano, tivemos a Renascença, tivemos as Revoluções Científicas... Criamos e destruímos impérios.  Fomos à Lua e voltamos. Tivemos as artes e as ciências. Experimentamos todas as possibilidades da existência humana, uma coisa tão frágil, num planeta mais frágil ainda.  Valeu a pena? Tudo vale a pena, enquanto o ator ainda está em cena.