quinta-feira, 13 de março de 2014

3445) Nota Onze (13.3.2014)



Li uma historieta certa vez em que um aluno, depois de fazer uma excelente prova subjetiva (com pequenas dissertações respondendo cada pergunta) queixou-se ao professor de ter ficado com a nota 9,5.  O professor respondeu: “Nove e meio significa que você acertou tudo. Pra tirar 10, você vai ter que me ensinar algo que eu não sabia.”  Eu diria que cada professor, por mais incompreendida que seja sua matéria (pense Física, pense Matemática) encontra de vez em quando um aluno que se destaca de todos os outros. No meio de quarenta da turma ou de quinhentos do colégio, ele chama a atenção pelo seu brilho numa matéria.  Em papo de sala dos professores, já vi um colega mostrando aos outros uma prova e dizendo: “Essa garota fez uma prova tão boa que eu tive vontade de dar onze. Um 10 me pareceu uma nota chocha.”

Você só se destaca naquilo onde você excede, e mais, naquilo que você excede por conta própria, por exuberância sua, e não por cobranças vindas de fora.  O aluno que faz uma prova impecável, toda respondida bem direitinho, leva para casa um 10 e acha que abalou.  Nem sempre.  Às vezes uma prova nota 10 nos deixa a sensação de que aquele aluno aprendeu apenas o necessário para acertar tudo, mas se a prova tivesse uma pergunta a mais ele talvez não soubesse respondê-la.

O ideal seria que todos os alunos tivessem um bom nível de entendimento e de aplicação, fizessem provas satisfatórias, etc. Nunca vai acontecer, principalmente num meio social irregular como o nosso.  E é bom que não aconteça. Prefiro os desníveis da vida real do que uma grande proficiência coletiva mas de forma robotizada, impessoal, onde todo mundo é aluno modelo mas é incapaz de ir além do que está sendo ensinado. O objetivo do ensino é jogar os alunos numa situação em que eles esqueçam “o que cai na prova” e aprendam mais do que seria necessário: só então vão surgir os que excedem.

O professor sabe reconhecer, entre os bons alunos (nem falo no restante), qual é aquele que está simplesmente na busca aplicada por uma boa nota, e aquele que está absorvendo o assunto da matéria por interesse próprio, por entusiasmo próprio. É esse que eu chamo de “Aluno Nota Onze”, porque muitas vezes ele, na excitação de pesquisar por conta própria, acaba trazendo aspectos da matéria que o professor não tinha abordado, trazendo problemas novos, propondo soluções diferentes. E não é raro esse papo de “o aluno ensinar algo ao professor”. Eu já ensinei coisas que professores meus conheciam menos do que eu; e quando professor fui ensinado por alunos que dedicavam àquele assunto mais tempo e mais energia do que eu.  É assim mesmo. É a respiração normal do ensino.