sábado, 9 de novembro de 2013

3339) "2001" (9.11.2013)





(foto: skynerd.com.br)


A editora Aleph acaba de lançar uma edição especial de 2001, uma Odisséia no Espaço de Arthur C. Clarke. Na capa de Pedro Inoue, há uma caixa preta tendo no centro o “olho vermelho” do computador Hal-9000, e dentro da caixa o livro propriamente dito todo impresso em preto, inclusive as bordas, reproduzindo o famoso monolito do filme. Além disso, o livro traz textos extras de Arthur C. Clarke, com dois dos contos que serviram de inspiração inicial para a obra: “A Sentinela” (1952) e “Encontro ao alvorecer” (1953).

2001 é uma das obras mais conhecidas da FC, graças ao filme, e imagino que tenha sido o único romance do gênero que muita gente chegou a ler (ou pelo menos tentou). Na época em que filme e livro foram lançados, eu tinha de 18 para 19 anos e ouvia o tempo todo comentários como: “Leia o livro, ele explica o filme todo!”. Explica... em termos. Toda a base científica do filme é esmiuçada, no brilhante estilo pensei-em-tudo de Clarke. Superficial na criação de personagens e na psicologia humana, ele é um espantoso pintor de ambientes e situações de grandeza cósmica e precisão científica.

Relendo o livro agora, percebi um detalhe. Os cinco astronautas na missão (embora a ação se concentre em dois) têm nomes que evocam os homens-macacos primitivos do início da história: Hunter (caçador), Whitehead (que lembra o homem-macaco “Cabelo Branco” devorado pelo leopardo no capítulo 1), Poole (que lembra “pool”, poça, onde os homens–macacos disputam a água), “Kaminsky” (uma forma da palavra “pedra” em polonês) e Bowman (arqueiro). Sim, sei que eles ainda não usam arco e flecha, mas a idéia está embutida na transformação do personagem Aquele-Que-Vigia-a-Lua.

A certa altura, depois da crise do Hal-9000, Dave Bowman lembra o que um técnico lhe havia dito, na Terra: “Podemos projetar um sistema que seja à prova de acidentes e estupidez, mas não podemos projetar um que seja à prova de maldade deliberada.” Clarke é um dos autores mais racionais e apolíneos da FC, mas por baixo da euforia racional ele (que não é bobo) reserva sempre um desvão escuro onde está de emboscada o imprevisto, o irracional, o inesperado. Como a própria crise de consciência do super-computador, que quase faz abortar a missão.

Quem chega a Saturno (no livro; no filme, é Júpiter) é um prodígio da alta tecnologia, pilotada pelos astronautas mais frios, sensatos e robóticos da humanidade, e por um computador que acaba revelando instintos de sobrevivência destruidores que não ficam muito distantes dos impulsos dos homens-macacos da primeira parte da história. Quem chega ao espaço é uma equipe onde não se distingue quem é máquina e quem é homem-macaco.