sábado, 26 de outubro de 2013

3327) Hotel Glória (26.10.2013)




Faço tantas críticas ao capitalismo nesta coluna que em breve vou despertar a desconfiança do FBI, o qual rapidamente avisará a nossa Polícia Federal. Meia dúzia de agentes vestidos de Arquivo X irão se debruçar sobre as páginas do meu blog Mundo Fantasmo e, depois de uma noite insone cheia de café e cigarros, concluirão: “Ele simpatiza com o comunismo”. Certo e errado. É certo que simpatizo com esse nobre movimento. Mas é certo também que simpatizo com o Anarquismo, o Surrealismo, a Música Barroca, a Mecânica Quântica, a Poesia Concreta, a Pintura Abstrata, o Rock Progressivo e uma porção de outros movimentos que para mim são até mais importantes do que as idéias de Marx, Engels, Brecht, Maiakóvski e Chico B.

Reli o parágrafo anterior e percebo que já estou lá na esquina. Melhor voltar. Minhas críticas ao capitalismo não pretendem substituí-lo por outro sistema econômico, porque na minha idade acho que não me adaptaria. Sou capitalista, e, como certos peixes de água salgada, não sobreviveria em água doce. Mas até mesmo por compartilhar esse destino já sei que o capitalismo é um Titanic destinado ao plâncton submarino, e não ao porto de Nova York.

Irei direto ao ponto: o Hotel Glória, do Rio de Janeiro. É a mais recente vítima do bipolarismo capitalista num país indefeso como o nosso. Aqui, qualquer sujeito capaz de pedir um vinho de 2 mil dólares num jantar põe Governos, Ministérios e Congressos aos seus pés. Foi o caso do trêfego Eike Batista, que construiu um castelo de fumaça, um transatlântico de papel, uma pirâmide de gelo, e convenceu Deus e o mundo de que era um dos homens mais ricos do mundo. O mundo acreditou, e avalizou todos os seus projetos; Deus fez valer a voz da razão, e transformou tudo em cinza e debêntures.

O Hotel Glória, que visitei inúmeras vezes, era um dos edifícios mais nobres e interessantes do Rio de Janeiro. Eike, no auge da própria onda, incumbiu-se de reformá-lo para a (fatídica) Copa do Mundo. A revista Piauíde outubro registra: “Em 2010, o BNDES liberou 146,5 milhões de reais do fundo ProCopa e teve início a reforma misteriosa. (...) Detalhes do novo desenho só vieram a ser divulgados em abril de 2012, quando os custos da reforma já eram estimados em 300 milhões de reais. (...) O hotel (...) hoje está à venda por 225 milhões de reais (...). Do charmoso prédio neoclássico sobrou um gigantesco canteiro de obras em fase de desmanche”. Foi maldade? Não, porque o capitalismo não é necessariamente mau. O capitalismo – esse capitalismo de hoje, viciado em zeros e “ões” – é bêbado. Dinheiro é a mais viciante das drogas, e, pelo que se vê, a mais desorientadora de todas elas.