sábado, 17 de agosto de 2013

3267) Armagedon das abelhas (17.8.2013)




Na Bíblia, as pragas do Egito e outros fenômenos apocalípticos envolviam manifestações de caos no mundo dos animais e dos insetos (pragas de gafanhotos, rãs, etc.). Na vida real, são as abelhas que estão dando o alarme. Falei em 2007 aqui nesta coluna (“A debandada das abelhas”: http://bit.ly/11PVSo9) sobre o fenômeno da “Desordem do Colapso das Colônias”, que nos últimos seis anos dizimou cerca de 10 milhões de colmeias. Estudos recentes indicam que o pólen recolhido por essas abelhas está contaminado por um verdadeiro coquetel de pesticidas; já foram descobertos 21 agrotóxicos diferentes em uma única amostra.

Os cientistas dizem que a absorção de fungicidas era considerada inofensiva para as abelhas, pois eles se dirigem contra a população de fungos. A gravidade da situação trouxe um elemento de tensão a mais entre a Rússia e ao EUA. A Rússia questiona o uso de inseticidas chamados “nicotinóides”, que, afetando a população das abelhas, pode desequilibrar a cadeia ecológica e comprometer a produção de alimentos do mundo inteiro. Houve irritação, dias atrás, num encontro entre Vladimir Putin e o Secretário John Kerry. Dois dos principais nicotinóides (Actara e Cruiser) são fabricados pela Syngenta, baseada na Suíça, parte de um grupo que inclui outros gigantes como Monsanto, Bayer, Dow e DuPont e controla quase a totalidade de pesticidas, plantas e sementes geneticamente modificadas.

Críticas pesadas vêm sendo feitas ao governo Barack Obama pela promulgação de leis que liberam as grandes empresas para produzir e comercializar material geneticamente modificado, e pelo fato de que o presidente colocou pessoas ligadas à Monsanto (como Roger Beachy, Michael Taylor e outros) em postos-chave do governo. O peso político dessas empresas, e o modo como seus lobistas estão incrustados em Washington, não permite imaginar que venham a perder influência no futuro próximo.

Sem querer ser apocalíptico, mas as cadeias ecológicas são tão bem encaixadas que não precisa de muita coisa para produzir desastres localizados. Basta lembrar episódios de proliferação descontrolada como a de coelhos na Austrália, de pardais nos EUA, de abelhas africanas nas Américas. A ficção científica já imaginou inúmeros cenários de catástrofes ecológicas globais onde há mais interesse em explorar as consequências do que as causas, mas como ainda estamos na fase das causas, são elas que nos interessam do ponto de vista prático. Com os milhões de toneladas de agrotóxicos despejados no mundo todos os anos, é só uma questão de tempo. A cada década que passa, as possibilidades de um colapso ecológico se multiplicam por todos os lados.