sábado, 27 de julho de 2013

3249) Mídia transparente (27.7.2013)



Vamos voltar um pouco ao tema da Mídia Ninja e das tecnologias de vigilância mútua entre o aparelho do Estado (e das Corporações) e a população civil. A onipresença das câmeras de segurança em nosso mundo urbano torna possível vigiar em tempo real (ou reconstituir “a posteriori”) os movimentos dos cidadãos através de uma cidade. A grande imprensa mostrou as deslocações do brasileiro Jean Charles antes de ser equivocadamente morto pela polícia londrina, sob suspeita de terrorismo, em 2005, e o modo como o carro da juíza Patrícia Accioly foi seguido pelos policiais que a mataram em Niterói, em 2008. Reconstituições assim poderão ser possíveis (em tese) em relação à maioria das pessoas, pois todas elas estarão em algum momento de seus trajetos urbanos passando pelo campo visual de uma câmera.

Nos EUA, carros da rádio-patrulha levam uma câmera apontada para a dianteira do carro; desse modo, quando os patrulheiros detêm um suspeito e param atrás do carro dele, todas as ações subsequentes (descer, mandar o motorista descer, revistá-lo, algemá-lo, dar-lhe uns safanões quando necessário) estarão sendo registradas para posterior avaliação no tribunal, se for requerido por alguém.

Milhares de câmeras portáteis nas mãos de manifestantes, cobrindo o tumulto de uma passeata, podem ser uma arma poderosa, se não para dissuadir a polícia de praticar as barbaridades costumeiras, pelo menos para atribuir responsabilidades “a posteriori”. Outra arma importante seria (não sei até que ponto isto já é contemplado pelas nossas leis atuais) a exigência de que qualquer procedimento policial fosse obrigatoriamente registrado em vídeo e áudio; e que no caso de a polícia não fornecer essas gravações, quando solicitadas por um juiz, isto fosse considerado um indício de possível culpabilidade. Uma micro-câmera numerada no capacete de cada policial envolvido na repressão de manifestações de rua. (E só faltava agora eles quebrarem a câmera com a mesma cara-de-pau com que arrancam o nome da farda.)

Câmeras no interior das delegacias, principalmente nas salas de interrogatório. É possível? Câmeras nos guichês de atendimento do Detran e outras repartições notórias pelo descaso, corrupção ou bagunça. É possível? Câmeras onde quer que ações governamentais e corporativas possam estar se chocando com o interesse da população. É possível? Se for, é preciso votar para que isto se transforme em lei, e que os bancos de imagens sejam acessíveis à sociedade organizada. Em termos enxadrísticos, o Povo precisa deixar de jogar com as peças pretas. Precisa jogar com as brancas, tomar a iniciativa contra (e colocar em xeque) Governos e Corporações.