sábado, 22 de junho de 2013

3219) Roubo no Baile de Gala (22.6.2013)





(Ladrão de Casaca)


É uma figura dramática que talvez não se encaixa em todos os gêneros, mas que traz muita animação a alguns deles. Essa situação (uma das 7, ou 36, ou 100 situações dramáticas essenciais, dependendo do autor) pode variar muito de ambientes, mas sua estrutura principal é assim: num local fechado (hotel, palácio, prédio público) está havendo uma cerimônia ou festa especialíssima, com muitos convidados, e alguém vai se valer disso para tentar um golpe ousado e profundo contra os organizadores. Basta pensar nos salões chiques da Riviera Francesa onde Cary Grant, em Ladrão de Casaca de Hitchcock, revivia o mito daqueles ladrões de jóias por quem se apaixonavam todas as socialites, um pessoal tipo Raffles, Arsène Lupin, Simon Templar (“O Santo”), Irving Le Roy, etc.

Não tem que ser um roubo; e tanto podemos estar torcendo pelos donos do baile quanto pelos assaltantes. Este último caso me lembra “A Dança dos Vampiros” de Polanski, aquele minueto-quadrilha num salão todo espelhado em que só os intrusos disfarçados de vampiro se veem (no pior momento possível) como as únicas imagens refletidas.

Não precisa ser um baile. Pode ser uma coroação, ou um casamento real. Quando todas as atenções do mundo estão voltadas para um acontecimento central, nítido, ensaiado, agendado, pré-pesquisado por todos... Que melhor momento para se infiltrar e aplicar um golpe no coração do adversário? Novelas, folhetins, filmes B, todos gostam dessas situações em que pessoas ricas e poderosas precisam manter as aparências de normalidade enquanto uma invasão plebéia está se processando. Uma situação que só o surrealismo poderia condensar numa única imagem: aquela de L’Âge d’Or de Buñuel, quando no meio do baile surge uma carroça cheia de operários bêbados que atravessa o salão inteiro sem ser percebida.

Casais que acertam uma fuga conjunta (ou um encontro erótico de meia hora) durante uma festa num palácio. Ladrões de jóias, ladrões de corações femininos. Agentes seguindo um suspeito num baile de máscaras. O atentado com atirador de elite na hora da coroação ou no “sim” do casamento. Arsène Lupin, o Ladrão de Casaca, era especialista nessas infiltrações na festa alheia, essas intrusões do espírito saltimbanco e pick-pocket do povo dentro de um regabofe de ricos despreparados para lidar com malandros autênticos. O dinheiro dos potentados, que pensam somente em enriquecer e em acumular mais e mais, pertence por justiça poética àqueles que querem ver as riquezas circulando, exibindo sua energia torvelinhante, mercurial. Acumuladores de riquezas não são merecedores delas. Tranquem todas as entradas e saídas, mas não vai adiantar.