quarta-feira, 8 de maio de 2013

3180) Um gringo e o Brasil (8.5.2013)





Gosto de registrar aqui na coluna maneiras alheias de ver o Brasil, principalmente quando são estrangeiros que observam, de dentro, nossa cultura. “De dentro” significa que aprendem o português, vêm morar aqui, alugam casa, arrumam emprego, botam os filhos nas escolas, usam o supermercado, o hospital, a oficina mecânica, o correio. A gente só entende uma cidade (estrangeira ou não) quando vive nela dessa maneira. Pra mim não cola esse papo de viajar para uma cidade, ficar num hotel, conhecer meia dúzia de praias, shopping-centers e restaurantes, e depois voltar para casa. Turista não conhece nada, turista passa através.

Ethan é um norte-americano do Colorado que viveu em Belo Horizonte e publicou num blog (http://bit.ly/137suZA) suas opiniões sobre nosso povo. Ethan se admira com nossas frutas (“o Brasil tem mais variedade de frutas do que qualquer outro país do mundo”) e com o fato de que “almoço, aqui, é sempre feijão, arroz e mais alguma coisa”. Ele acha o brasileiro “o povo mais hospitaleiro do mundo”, e observa que a qualquer momento que encontra alguém comendo ou bebendo a pessoa o convida a compartilhar. Ele se admira de que no Brasil a cerveja (“a cerveja brasileira é a mais gelada do mundo”) seja uma bebida coletiva: “Pede-se uma garrafa grande para a mesa, e vários copos, e quando seu copo fica vazio e você quer enchê-lo, enche primeiro os copos das outras pessoas; não já falei como os brasileiros são amigáveis?”.

Ele estranha que as pessoas tomem café em copinhos de plástico, não só porque queima os dedos, mas porque a bebida quente libera componentes químicos. Constata que por toda parte há coisas quebradas ou fora de uso, mas isso é normal no Brasil, a pessoa se acostuma: “agora, acho graça quando ouço os gringos reclamando”. Para ele, contudo, é esquisito ver numa loja cinco caixas e só uma pessoa atendendo, e ver na quitanda cinco pessoas atendendo e somente uma caixa registradora.

“As pessoas pensam que o Grande Canyon fica no Colorado”, diverte-se ele. Eu não achei muita graça, porque também pensava. (É formado pelo Rio Colorado, mas fica no Arizona.) Ele se queixa de que os motoristas são malucos, e que um trajeto de ônibus traz mais emoções do que uma corrida na montanha russa; mas em compensação as pessoas sempre se oferecem para segurar os pacotes de quem está em pé. “Demonstrações públicas de afeto”, diz ele, “são culturalmente aceitáveis aqui, seja num parque ou num restaurante, e é mais uma coisa com que você tem que se acostumar”. E avisa: “As pessoas sempre dizem ‘vamos combinar algo’, mas para você conseguir que isso aconteça vai ter que empregar toda sua iniciativa”.