sábado, 2 de fevereiro de 2013

3099) Dia de prova (2.2.2013)





Foram encontradas estas passagens, entre as anotações do Budista Tibetano:

“Últimos instantes. Todo mundo se arrumando nas cadeiras, experimentando o assento. As provas estão empilhadas na mesa. Não posso me impacientar.  É o momento de repassar a estratégia. Primeira hora, ir de A a Z matando o fácil, o óbvio, ou seja, resolvendo os cinco ou seis tipos de problemas que eu estudei. E, misturados a eles, aqueles outros tão idiotas que até eu descubro a resposta. O meu problema não é nem não saber a resposta, na verdade, porque em geral eu sei, só que não me ocorre justamente no instante em que me seria mais necessária.

“Depois de uma hora: voltar ao começo. Cuidar daqueles que requerem releitura cuidadosa. Ver as sutilezas e as armadilhas de enunciado.  Pegar os mais acessíveis e avançar em sua solução, tentando de verdade ir até o fim.  Quando se deparar com um muro total, um branco total, passar para o próximo. Se ainda tiver um palpite, uma intuição de que está indo no caminho certo, melhor permanecer, pode ser que depois não lembre exatamente de tudo que está lembrando agora.

“Com um pouco de sorte, eu diria que estas duas primeiras passadas já deixariam resolvidos 50% dos problemas.  Isso depende, claro. Tem gente que se sente mais à vontade em raciocínios longos e coordenados, e têm dificuldade em entender problemas de mais curto alcance. Mas este é o momento, se você é um desses felizardos que se interessam pela matéria sim, que acham aquilo importante sim, que estão dispostos a virar umas noites em cima de um livro sim, alguma coisa vocês acabarão entendendo. Chama-se a isso a Perpetuação da Chama do Saber. O sujeito é aprovado com louvor em Cabala Tridimensional e diz: “O meu segredo é que eu gosto do que faço”.

“Se você gosta do que faz, começa aqui a melhor parte da prova, porque ali está o filé dos problemas complicados – porque exigem memória, ou cálculo, ou engenhosidade, ou dialética – dos problemas desafiadores e que serão como uma muralha entre você e seu destino. Os que você derrubar, passam a fazer parte do seu território. Os que o fizerem tombar a cabeça exausto e adormecer, são os que dizem: “Não Trespasse”.

“Grandes vitórias já foram obtidas nos derradeiros segundos, quando a mente febril e a mão em cãibras terminavam de rabiscar, de modo minimamente legível, as linhas finais de um raciocínio límpido e inquestionável, e no qual, dez minutos atrás, ele próprio nunca tinha pensado. Se a nota obtida foi a que o aluno precisava? Isto é questão secundária. Uma prova é como um salto de trampolim, aquilo tem que ser perfeito, e se algum momento de perfeição ocorre, pra que nota? O que é uma nota?”