terça-feira, 29 de janeiro de 2013

3095) O plágio poético - 1 (29.1.2013)







(Christian Ward)

Acusações de plágio na poesia são tão frequentes quanto, muitas vezes, equivocadas. Eu sempre tive o costume de fazer, em meus versos, alusões, citações, referências a versos alheios. Não aconselho a ninguém. Isso é cacoete, vício de quem leu demais os mesmos versos e só por isto começou a se sentir meio proprietário deles. Todo poeta principiante imita, cita, tenta reproduzir os efeitos que viu nos seus ídolos. É normal. O que não é normal é publicar esses exercícios como se fossem obra original.  O “poema referencial” tem que ter “originalidade extra”, algo que vai além da cópia ou da homenagem. Somente assim a publicação se justifica.

Há um caso de plágio recente na Inglaterra envolvendo o poeta Christian Ward, que teria plagiado um poema alheio. No meio da discussão Ward pediu desculpas pela imprensa e confessou que ter se apropriado de um poema de Tim Dooley, poeta e professor de literatura. Copiei o poema de Ward, “The Neighbour” e o de Dooley, “After Neruda”, para compará-los.

Amigos, os poemas são iguaizinhos, embora aqui e ali Ward tenha feito pequenas mudanças. Mas eis a primeira estrofe do poema original, de Dooley (http://bit.ly/Uk5na5): “Sometimes he’s tired of being a man. / The reflection he sees, in shopwindows / or the cinema screen, takes on a sad / substance, tired and withered: ash-stains / on a shiny piece of suit cloth.”  E eis a primeira estrofe do plágio, de Ward (http://bit.ly/SydZg0): “He often tells me he’s tired of being a man. / The reflection he sees in shop windows / or the cinema screen takes on a sad / substance, tired and withered: ash-stains / on a shiny piece of suit cloth.”  Não traduzo porque o espaço não dá, mas ninguém precisa saber inglês para ver que são praticamente idênticas, até as quebras de linha são as mesmas.  Pra mim é claro que Christian Ward leu o poema de Dooley, gostou e resolveu publicá-lo sob seu próprio nome, para ser elogiado.

Mas nem era preciso que Pablo Neruda fosse citado no título para que eu percebesse a semelhança do poema de Tim Dooley com “Walking around”, um dos meus poemas favoritos de Neruda, o que começa dizendo: “Sucede que me canso de ser hombre...”. Localizei uma tradução em inglês, feita por Robert Bly, para que as semelhanças ficassem mais visíveis. Eis Pablo Neruda: “It so happens I am sick of being a man. / And it happens that I walk into tailorshops and movie houses / dried up, waterproof, like a swan made of felt / steering my way in a water of wombs and ashes.” É apenas a primeira estrofe, mas é muito claro que Dooley quis fazer uma paráfrase de Neruda, e que Ward praticamente copiou o poema de Dooley. (Continua amanhã)