terça-feira, 11 de dezembro de 2012

3053) Diário de Classe (11.12.2012)




(Isadora Faber)


Houve um bafafá danado, de julho pra cá, por causa da página “Diário de Classe”, inventada por Isadora Faber, uma menina  de 13 anos. Ela criou a página do Facebook para reclamar dos problemas e dos defeitos da escola municipal onde estuda, em Santa Catarina. Pra quê que ela fez isso?!  Choveram reclamações, críticas, ameaças. A avó da menina foi atingida por uma pedra; ela própria foi intimada a prestar depoimento em uma delegacia, porque uma professora a acusou de calúnia e difamação.

A verdade é que ninguém gosta de ver divulgados os seus malfeitos, sejam ações desonestas ou simples negligências. No caso da escola da menina, não acho que os problemas sejam muito diferentes do que se vê na maioria das escolas, públicas ou particulares: orelhões quebrados, fios elétricos desencapados, falta de professores... Cada escola tem problemas diferentes, que no fundo são um só: falta de dinheiro ou má aplicação (por incompetência, descaso ou desonestidade) do dinheiro disponível.  Quem quiser conferir, procure no Facebook a página “Diário de Classe”.

Como tanta coisa na Internet, o página se multiplicou (diria um redator das antigas) “como fogo num rastilho de pólvora”. “O Globo” de domingo diz que já existem mais de cem páginas diferentes, criadas por outros estudantes, nos mesmos moldes. Isto é bom? É ruim? Como sempre acontece quando se bota uma tecnologia na mão de uma multidão, pode servir pra tudo. Estudantes moleques podem querer “trollar” a própria escola postando fotos tiradas em outros lugares e dizendo que foi lá. Alunos relapsos podem agredir a imagem de professores exigentes, por vingança. Alunos podem se sacanear uns aos outros postando fotos ou informações comprometedoras.

Ou seja: os riscos são os mesmos de quando foram inventadas as inscrições cuneiformes ou os hieróglifos egípcios. Qualquer nova maneira de multiplicar uma informação pode ser usada para o bem e para o mal.  O lado bom é que a Internet e as redes sociais, que tantas vezes são acusadas de servirem apenas de vitrine para narcisismos e irrelevâncias, mostram que podem ser também um instrumento de vigilância, de cobrança, de denúncia, etc., principalmente numa área crucial como a do ensino.

A educação federal, estadual e municipal (além das escolas particulares!) vem sendo sucateada há décadas. Se a Internet e as redes podem ajudar a pressionar os governos e as escolas privadas para que atenuem a catástrofe, tanto melhor. Nenhuma tecnologia é melhor ou pior do que o uso que lhe é dado. Os adolescentes estão mostrando que conhecem bem o funcionamento das redes sociais, e que sabem utilizá-las de uma maneira inesperadamente adulta.