quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

3048) Gibson e o futuro (5.12.2012)






Um artigo de James Turner no portal O’Reilly Radar (http://oreil.ly/MSg64z) discute a obra de William Gibson (Neuromancer principalmente) perguntando: “A FC previu o futuro?  Adivinhou, trinta anos atrás, como seria o nosso presente?” Turner observa que Gibson errou em muitos detalhes técnicos. Em alguns casos a realidade se desenvolveu de maneira oposta ao que ele imaginara em seu livro, mas ele soube captar bem o Zeitgeist, o espírito do tempo. Captou a sensação sufocante de vigilância eletrônica, da existência de uma “matrix” (embora ele evite este termo) e de uma guerra feroz travada nas trincheiras digitais. Gibson acertou só um pouco na evolução da informática, diz Turner, e acertou muito mais no que previu da Distopia em nosso futuro.

Diz ele: “O mais interessante é que Gibson errou por completo na questão de onde estariam sendo travadas as batalhas. No universo de Gibson, as corporações se enfrentam disputando segredos de negócios, com ‘assassinos’ informáticos altamente preparados travando elegantes batalhas contra ‘firewalls’ meticulosamente construídos. No mundo real, os defensores estão sendo superados numericamente, travando uma guerra desesperada em frágeis plataformas de software contra hackers semi-instruídos que desferem descargas cada vez mais maciça de ataques baseados na força bruta. E, ao invés de planos tecnológicos de valor inestimável, a riqueza que essas empresas tentam proteger são bens mundanos: números de cartão de crédito, músicas, filmes”.

Gibson nunca escondeu que quando escrevia Neuromancer seu conhecimento de computadores era apenas superficial.  Ele misturou suas leituras, intensas mas desordenadas, e jogou tudo na página em branco. Sobre vírus, ele diz (em 1990): “Não percebi o quanto esse conceito era esotérico na época. Presumi que todo mundo sabia a respeito, pelo menos o pessoal de informática. Na verdade, nem todos sabiam”.

Prever o futuro é O Sonho Burguês. Controlar, dominar o tempo como dominamos o espaço. A Ciência cartesiana surgiu para isto: para dar ao Poder econômico a capacidade de antever fatos, tendências, consequências. A Revolução Industrial, a Era Espacial e a Era Atômica são indissociáveis de “experiências controladas com resultados previsíveis”. Quando os escritores relaxam sua verve literária e se concentram em tentar adivinhar o que vai acontecer daqui a 30 anos, estão se curvando diante da pressão burguesa pelo Utilitarismo, pelo Controle do Futuro. A tentação de prever é um dos maiores riscos que a FC corre, assim como a tentação de defender uma ideologia política é um dos maiores riscos da literatura social, realista, do mainstream.