quinta-feira, 29 de novembro de 2012

3043) F de Foguete (29.11.2012)



(Elon Musk)


A espaçonave tem sido um símbolo da ficção científica desde o seu começo. O primeiro livro sobre a ida de um artefato mecânico à Lua foi Da Terra à Lua de Julio Verne (1865), mas não se tratava de um foguete, e sim de uma bala de canhão. Balões e veículos de formatos improváveis (e meios de propulsão mais improváveis ainda) foram numerosos no século 19, pela imaginação de H. G. Wells, Garrett P. Serviss e outros. A Encyclopedia of Science Fiction de John Clute menciona como duas das mais convincentes espaçonaves do início da pulp fiction as que aparecem em The Shot into Infinity”de Otto Willi Gail (1925) e The Voyage of the Asteroid de Laurence Manning (1932). Cito estas datas porque aqui no Brasil já tínhamos em 1923 pelo menos duas obras: A Liga dos Planetas de Albino Coutinho, com seu “aeroplano”, além do cordel História do Homem que Subiu Em Aeroplano até a Lua atribuído a João Martins de Athayde, mas cujo verdadeiro autor talvez seja Leandro Gomes de Barros.  Espaçonaves cientificamente canhestras, mas em todo caso são provas de que a FC no Brasil surgiu par-a-par com a dos EUA e Europa.

Elon Musk é um jovem (nasceu em 1971) empresário dos EUA que está tentando reaquecer sozinho a corrida espacial. Segundo ele, a astronáutica dos foguetes está mais do que defasada, tanto no aspecto técnico quanto no econômico. Parece delírio? Bem, ele é o criador do PayPal, uma das coisas que deram mais certo até hoje no mundo da web. Diz Musk (http://bit.ly/Rc9t45) que a tecnologia aeroespacial não experimentou melhorias materiais desde os anos 1960, e na verdade pode até ter regredido. Para ele, “as empresas aeroespaciais têm uma incrível aversão ao risco”, e seu excesso de cuidado chega até o ponto em que, num engraçado paradoxo, “um componente que nunca foi ao espaço não pode ir ao espaço”.

Além disso, diz ele, a febre de terceirização faz essas empresas delegarem tarefas a subcontratantes que por sua vez chamam outros, a um ponto em que “é preciso cruzar quatro ou cinco camadas de poder até chegar a alguém que esteja de fato fazendo alguma coisa”. Por isso, diz ele, o voo espacial é tão caro. Isso, e os custos de produção dos foguetes (que ele afirma ser capaz de reduzir a 10% dos custos atuais). “Imagine”, diz ele, “se cada avião durasse apenas uma viagem. Não haveria transporte aéreo”.  O projeto de Musk é enviar um foguete tripulado a Marte em 10 ou 20 anos, a um custo muitíssimo inferior ao que vem sendo praticado pela NASA. A antiga inequação “Estado paquidérmico x Empresariado ágil” parece estar emergindo de novo, após meio século de corrida espacial financiada pelos governos.