sábado, 27 de outubro de 2012

3014) Cifrões eletrônicos (27.10.2012)





Uma das coisas boas do capitalismo (sistema tão perseguido nesta impiedosa coluna!) é o fato de que ele se esforça o tempo inteiro para descobrir maneiras mais fáceis e mais fluidas de produzir, de transportar, de estocar, de expor, de vender, de cobrar, de entregar.  Vive disto, não é mesmo? – então tem mais é que aplainar os caminhos pedregosos que ligam estes processos. 

O dinheiro eletrônico surgiu para eliminar a necessidade de transferir sacos cheios de moedas metálicas de um continente para outro.  As máquinas de cartão de crédito foram um passo adiante, e agora existem sistemas como o Square em que qualquer celular pode se transformar numa maquininha dessas. Você pluga na entrada dos fones de ouvido a engenhoca eletrônica, passa ali o cartão bancário, digita seus dados (ou aperta sua impressão digital), e presto! – o dinheiro foi transferido. Para isto, claro, o celular precisa baixar o aplicativo correspondente.  O Square é uma criação de Jack Dorsey, que é também um dos criadores do Twitter. Numa matéria da Wired (http://bit.ly/KUEM27), Dorsey argumenta que os novos smartphones têm muito mais poder de processamento do que um Banco inteiro de décadas atrás, e seria bobagem não aproveitar isso para disseminar o ato da venda eletrônica.

Gigantes da transação eletrônica como PayPal e VeriFone rapidamente copiaram a inovação, e Jennifer Miles, vice-presidente desta última, admitiu: “Square pegou uma indústria sonolenta, que há anos vinha fazendo as coisas sempre do mesmo modo, e introduziu uma inovação; mas é um processo que pode ser replicado”. Também faz parte do capitalismo essa disposição constante em copiar o que o concorrente fez e está dando resultado. Dorsey não liga. Ele parece fixado (como Steve Jobs, um dos seus gurus) na maneira mais simples e prática de fazer as coisas. Diz ele: “O desafio que eu coloco para nossa equipe de produção é criar um aplicativo que eles mesmos queiram usar. Isto é uma coisa que eu aprendi na Apple. É a razão pela qual eles estão o tempo todo surpreendendo os usuários”.

O sistema de livre concorrência obriga à produção de muita bobagem desnecessária, mas em seu lado positivo ele cria uma mentalidade de design, de excelência, de aperfeiçoamento em busca da melhor forma de fazer as coisas. As futuras sociedades socialistas devem ficar de olho nesse aspecto do capitalismo. A concorrência criativa força as melhores mentes a buscarem as melhores soluções, e em certo ponto isso se torna uma corrida estética, à procura da beleza e da funcionalidade, e deixa para trás a acumulação onívora de capital, a sede predatória pelo lucro incessante.