terça-feira, 11 de setembro de 2012

2973) Roberto Silva (11.9.2012)





“Hoje não tem ensaio na Escola de Samba... / O morro está triste e o pandeiro calado”. A manhã de domingo trouxe a notícia temida há muito tempo: a morte de Roberto Silva, o maior sambista brasileiro. Tinha 92 anos, e meses atrás eu lera que estava muito doente.  Soube agora que tinha câncer de próstata.  Os sambas de Roberto Silva marcaram minha infância e adolescência, porque foi durante os anos 1950-60 que ele lançou sua coleção de quatro LPs Descendo o Morro, cujas canções tocaram nas rádios do Brasil inteiro. Veio a Jovem Guarda, veio o Tropicalismo, o Rock-BR, e Roberto desapareceu. Ressurgiu com força total aos 80 anos, e foi num artigo de Ruy Castro que fiquei sabendo do relançamento em CD da série Descendo o Morro, um CD duplo que traz todos os quatro discos.

Maior sambista brasileiro?  Que história é essa? E Paulinho da Viola, Martinho da Vila, etc.?  Bem, em primeiro lugar Roberto corre noutra raia, porque é mais cantor do que compositor, é do tempo do cantor intérprete, que grava as composições alheias. Em segundo lugar, se você fizer uma enquete com todos os candidatos a maior sambista brasileiro e tocar no nome “Roberto Silva”, o mais provável é que todos eles ponham um joelho em terra e peçam-lhe a bênção. Ele foi um artista fundador de um estilo, com sua voz grave, encorpada, expressiva, capaz de sutilezas de ironia ou de romance; uma espécie de Orlando Silva com gingado de malandro e repertório de morro.

Tive a alegria de vê-lo ao vivo no Cine Odeon, na Cinelândia, num histórico show de samba em que ele subia ao palco acompanhado de uns 20 músicos para cantar seus grandes sucessos como “Amanhã eu volto”, “Ai que saudade da Amélia”, “Emília”, “Errei, erramos”, “Falsa baiana”, “Agora é cinza” e por aí vai.  Como todos os cantores de sua época, gravou diversos estilos, incluindo bolero e samba-canção. Uma das minhas preferidas é “Jornal da Morte”, que comentei nesta coluna no ano passado (http://bit.ly/RA39i1).

O samba, que já foi o “centrão” da música brasileira, foi cedendo espaço a novos ritmos a cada década que passou, e hoje não é mais o centro, não é mais o “mainstream”, é um gênero como os demais.  Isso não significa que esteja decadente. Jornalistas param de ouvir samba e começam a achar que com a ausência deles o samba morreu. Não morreu, mas quase foi fagocitado por subgêneros de sucesso como o pagode, tanto o pagode verdadeiro de fundo de quintal quanto o pagode estilizado e “axézado” das bandas de show na praça. O samba continua a se multiplicar em talentos e não perdeu a medula rítmica, melódica e poética que foi consolidada pela geração a que pertenceu Roberto Silva.