sábado, 14 de julho de 2012

2923) Woody Guthrie, 100 anos (14.7.2012)




O Brasil comemora o centenário de Luiz Gonzaga, e fico imaginando que tipo de comemorações estará havendo nos EUA pelo centenário do Luiz Gonzaga deles, o grande Woody Guthrie.  

Assim como Gonzaga, foi um cara que viajou seu país de ponta a ponta, cantando a vida das pessoas simples nos campos de trabalho, nos sítios, nas praças, nas estações de rádio, nos comícios, nas festas.  

Gonzaga inventou o baião sintetizando elementos rítmicos, melódicos, instrumentais, poéticos.  Guthrie trabalhou dentro da canção folclórica de origem irlandesa ou escocesa, da música country tradicional, do forrozinho hillbilly que eles dançam até hoje, de um ou outro elemento negro do blues, das baladas em compasso ¾, e daquelas quilométricas canções narrativas em estrofes fechadas, que a canção em língua inglesa tanto aprecia. (E nós também – vide “Triste Partida”.)

Guthrie é menos conhecido pelas canções do que por ter sido o “poeta andarilho” que serviu de modelo a uma geração inteira de “trovadores hippies”: Bob Dylan, Phil Ochs, “Ramblin” Jack Elliott, etc.; e ter sido interpretado por David Carradine (o ator da série “Kung Fu”) no filme Esta terra é minha terra (1976), inspirado em sua autobiografia Bound for Glory (1943).  

Acho que há poucos CDs de Guthrie lançados no Brasil.  Nos tempos do vinil era ainda mais difícil encontrar alguma obra sua, e o que me salvou foram alguns elepês da biblioteca da ACBEU, na Vitória, no tempo em que eu morava em Salvador.

Ele foi o menestrel ambulante da América no tempo da Grande Depressão, pegando carona em trens, dormindo nos acampamentos dos sem-terra, metendo-se em agitações políticas.  No filme dylaniano Não estou lá, de Todd Haynes, seu nome é dado a um adolescente negro, fluente ao violão. 

Sua carreira de trovador brotou num ambiente idêntico ao de As Vinhas da Ira (livro de John Steinbeck, filme de John Ford).  Esquerdista por natureza, Guthrie escreveu em seu violão: “Esta máquina mata fascistas”, mas suas canções não são incendiárias, nem falam de revolução.  Em sua grande maioria são celebrações da vida simples das pessoas do interior (tal como em Luiz Gonzaga) e reafirmações da fé democrática fundamental dos norte-americanos.

Guthrie nasceu em 14 de julho de 1912 e morreu aos 55 anos, de uma doença nervosa degenerativa. Seu filho Arlo Guthrie é um dos grandes nomes do folk rock.  Sua obra continua a ser gravada e reverenciada, canções como “This land is your land”, “Pastures of Plenty”, “I ain’t got no home”, e seus numerosos “talkin’ blues”, aquele estilo de monólogo semi-cantarolado enquanto se rasqueia o violão, usado por Dylan, Arlo e tantos outros.