quinta-feira, 22 de março de 2012

2824) Sou contra a Copa (22.3.2012)



(foto: Muhammed Muheisen)

Não sei se já falei a respeito aqui nesta coluna, mas sou contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, nos termos atuais. Sou doido por futebol (pra gostar de futebol precisa ser meio doido). A primeira Copa que acompanhei foi a de 1962, pelo rádio, e desde então sou daqueles que em época de Copa param tudo. Eu adianto o trabalho o máximo que posso nos meses anteriores à Copa, para no dia poder assistir, sei lá, Polônia x Costa Rica às 8 da manhã, Croácia x Costa do Marfim ao meio-dia e Canadá x Irã às 4 da tarde. É bonito ver estilos de futebol tão diferentes testando-se uns aos outros. É bonito acompanhar craques anônimos que, vendo-se pela primeira vez diante de uma platéia de milhões, superam-se e fazem uma Copa inesquecível, viram heróis mesmo que seu time não seja campeão. A rapidez de uma Copa do Mundo, com jogos diários, comprime no espaço de poucas semanas as emoções de um campeonato inteiro. Um time apontado como virtual campeão da 2ª.feira desmorona e é eliminado na 5ª.

Tudo isto é para dizer que sempre sonhei ver uma Copa no Brasil, não para ir ao estádio, mas para que essa festa toda acontecesse fisicamente ao meu redor, como um Carnaval ou um São João. O que acontece é que a Copa mudou muito, tornou-se (nas mãos da FIFA, que em termos de passar-por-cima e faturar grana faz inveja a Eike Batista) um dos eventos mais lucrativos do mundo. Sou um crítico da Fifa (coloco-a numa prateleira próxima à da Vale e da Halliburton) no que diz respeito a transformar o futebol, um esporte para multidões, num esporte para ricos. Já falei aqui nesta coluna sobre o curioso espetáculo de muitas torcidas numa Copa. Não são torcedores, são turistas endinheirados. Gente que não sabe o que é um impedimento ou um chute de três dedos, mas que tem dinheiro para comprar os pacotes caríssimos da Copa – ou tem a sorte de trabalhar numa multinacional que distribui esses pacotes como prêmio para funcionários que se destacaram.

Por onde passa, a Fifa exige que os países atendam suas exigências, que às vezes resultam em efeitos positivos (hotelaria, transportes, segurança, comunicações), mas que deixam prejuízos onde a porta do cofre vive aberta.. O futebol da Alemanha tem como absorver os novos estádios que o país construiu para a Copa, mas os da África do Sul estão fechados, cobrando ingressos aos turistas que vão fotografá-los. O Brasil ironicamente, vai sofrer o mesmo. O futebol de vários Estados incluídos na Copa não tem como encher um estádio desses, a não ser numa decisão regional ou na vinda de um time de fora. O Brasil vai ter mais prejuízo do que benefícios, e é uma pena que seja assim.