terça-feira, 19 de julho de 2011

2612) O melhor amigo do homem (19.7.2011)





Rex, abre a janela e se estiver fazendo um dia bonito dá três latidos. Beleza. 

Rex, vai na cozinha. Tem uma chaleira com água, em cima do fogão. Torce o botão com a boca, aperta o acendedor com o focinho. Deixa que o resto em mesmo faço. 

Uaaaaah. Agora vou tomar meu banho. Rex, depois vai no meu quarto e forra a cama, visse?

Rex, vê só as ironias da história. Pacote de biscoito? Obrigado. A humanidade desperdiçou bilhões de dólares tentando fabricar robôs de metal, com juntas articuladas, circuitos eletrônicos, garras preênseis de alumínio e titânio, na esperança boba de que essas catrevagens conseguissem nos ajudar nas tarefas cotidianas. Quebraram a cara, não foi? 

Me passa aqui a geléia. Valeu. Pois é, podem servir para montar carcaças de automóveis em Detroit ou Betim, mas eu mesmo é que não queria uma daquelas aranhas niqueladas tilintando por dentro da minha casa. Não tenho empatia com máquinas. Máquina não sente a dor de uma topada, e por isso é indiferente às nossas. Máquina pensa como inseto. 

O ser humano precisa de um ambiente mamífero à sua volta. Pega aqui o jornal, bota no balde de lixo, o de lixo de papel pra reciclar. Obrigado.

Rex, leva os pratos pra pia e liga meu notebook enquanto eu escovo os dentes. Acho que o ser humano se encantou demais com essa besteira de instrumentos. Acha que todo o trajeto evolutivo do ser humano tem que ser por aí. Besteira. 

O antropóide primitivo usou um pedaço de pau ou de osso pra quebrar algum galho, deu certo, e daí em diante ele só conseguiu enxergar a evolução social em termos de pedaços-de-osso-artificiais. Feito aquele macaco de 2001, Rex, aquele que você late sempre que vê na tela. Do osso para a espaçonave. Um milhão de anos de equívocos. Pega ali meu celular na mesinha de cabeceira.

Bem, como eu ia dizendo, não era por aí. Desprezamos a convivência das criaturas biológicas para perseguir essa devaneio bobo de fabricar criaturas de metal. Rex, se ao invés de construir o primeiro simulacro humano tivéssemos feito o primeiro upgrade num cachorro, teríamos queimado um milhão de etapas. 

Tocaram a campainha, vai lá. Se for o síndico bota pra correr. 

Foi preciso uma crise econômica mundial para que esquecêssemos esse delírio de produzir engenhocas. Para que investíssemos em escolas de humanização de animais domésticos, de interfaces semióticas, de socialização em nosso benefício mútuo. 

Era o Sedex? Põe na escrivaninha. Descobrimos que cães, chimpanzés, golfinhos, corvos e muitos outros são um exército-reserva de bilhões de operários, secretários, mordomos em potencial, bastando apenas que lhes sejam dados os benefícios da bio-graduação e da escolarização especializada. OK, vou trabalhar, pode ligar a TV e assistir Os Simpsons

Não troco você pelo R. Daneel Olivaw de Asimov nem pela Rose dos Jetsons. Melhor do que você, Rex, só mesmo Gisele Bundchen de avental, mas machismo hoje é proibido por lei.