sexta-feira, 8 de julho de 2011

2603) Psicofisiologia do frango futebolístico (8.7.2011)



O frango, no futebol, é sempre uma mistura de acidente, gafe, ato-falho freudiano e trapalhada de comédia pastelão. Quando acontece, produz sempre um misto de constrangimento, piedade, risadaria incontrolável, prazer sádico, surpresa, indignação. O frango é uma reafirmação do caráter aleatório do futebol, da sua condição de atividade vulnerável ao acaso, ao imprevisto, a interferências impossíveis de controlar. É a maldição do goleiro, o poltergeist da pequena área. Em tempos recentes a turma do Globo Esporte criou o “Inacreditável Futebol Clube” para nele alistar todos os atacantes que perdem gols feitos, mas a perda de um gol feito, mesmo quando ajuda a decidir um jogo ou um título, não se compara ao frango de um goleiro. O goleiro é o único jogador que não pode errar, porque é dele a última interferência na jogada, a última chance de salvação. Quando ele falha, e falha feio, a torcida sente o chão faltar-lhe embaixo dos pés.

Existem frangos de desatenção, quando o goleiro não está esperando um chute a gol e vê a bola descair mansinha rumo à rede, a dois metros de distância. Existe o frango de excesso de confiança quando a bola vem fraca, e ele vai para a defesa já pensando no que fará em seguida – e a vê passar entre suas mãos, por baixo do seu corpo ou (pior ainda) por baixo do pé com que tentou detê-la. Existe o frango-trapalhada, que envolve goleiro e zagueiros numa situação qualquer de trombadas e encontrões, em que os protagonistas se chocam ou se enrolam mutuamente e ninguém consegue interceptar a trajetória lenta da bola para dentro da meta.

Há um tipo controverso de frango que eu classifico assim, mas alguns experts discordam. Para eles, frango é uma bola “facinha” que o goleiro não consegue defender, então eles não incluem aquela cena em que o goleiro sai do gol tentando rebater a bola para o meio de campo, carimba o atacante e a bola entra. O primeiro que vi ao vivo foi num Treze 1x0 Campinense no Plínio Lemos, quando Elias carimbou Luís Garapeiro à altura da meia-lua e a bola veio quicando e entrou. Nosso bravo Júlio César, da Seleção, fez algo parecido, só que com as costas de um zagueiro, quando era goleiro do Flamengo, num jogo na Bahia.

Dizem que frango é um gol por baixo das pernas, mas também discordo. Há chutes violentíssimos, desferidos a queima-roupa, que passam entre as pernas do goleiro com a velocidade da luz. Não são frango. O frango tem que envolver uma situação de controle e segurança aparentemente total, da parte do goleiro, que desmorona de repente devido a sua incompetência. O frango mais amargo costuma ser o de excesso de confiança, quando o goleiro já defendeu uma série de bolas difíceis e acaba relaxando, com um certo alívio, ao ver se aproximar uma bola mansa e inofensiva. Ele a agarra com segurança, num gesto já repetido milhares de vezes, mas de repente a bola fica esguia, viva, irrequieta, cheia de asas e penas e.... cocoricocó!