sexta-feira, 1 de outubro de 2010

2361) Arthur Penn (1-10-2010)



Morreu dias atrás, aos 88 anos, Arthur Penn, que dirigiu alguns dos filmes mais interessantes do cinema norte-americano das décadas de 1960-1970, mas nunca foi tão levado a sério como outros, menos talentosos do que ele. Não vi os filmes do final de carreira de Penn, mas vi seus oito primeiros filmes, realizados entre 1958 e 1975. Todos são bons ou ótimos. O mais conhecido é Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas (1967), que influenciou todos os filmes de gangsters feitos desde então. Caçada humana (1966), já lançado em DVD no Brasil, é um thriller que revela a sordidez e o fascismo latente nas cidadezinhas dos EUA. Um preso (Robert Redford) foge da cadeia e passa a ser perseguido por toda a cidade, e somente o xerife (Marlon Brando) tenta fazer valer a lei. O elenco tem Jane Fonda, Robert Duvall, E. G. Marshall e Angie Dickinson. Night Moves (1975) mostra Gene Hackman no papel de um detetive particular problemático; é um filme que eu gostaria de rever, porque na época o achei tão bom quanto o badalado Chinatown de Polanski.

Um dos filmes mais elogiados de Penn é sua transposição para a tela da peça The Miracle Worker, a história de Ann Sullivan, a enfermeira/professora que consegue humanizar e instruir uma menina cega, surda e muda, que quando adulta tornou-se a escritora Helen Keller. O filme, O Milagre de Ann Sullivan (1962) foi um enorme sucesso e as duas atrizes (Anne Bancroft e Patty Duke) ganharam o Oscar. Outro filme que ganhou prêmios variados foi Pequeno grande homem (1970), em que Dustin Hoffmann faz o papel de um chefe índio, dos 17 aos 120 anos, contando a saga do extermínio das tribos nativas dos EUA.

Outro western pouco convencional é Um de nós morrerá (1958), filme de estréia de Penn, em que ele mostra Paul Newman no papel de um Billy the Kid cheio de encucações freudianas, e seguido por toda parte por um escritor que documenta suas façanhas, personagem que viria a se tornar um clichê do western (sua mais recente encarnação é em Os Imperdoáveis de Clint Eastwood). O filme mais leve e divertido de Penn é Deixem-nos viver (“Alice’s restaurant”), em que ele toma por base uma canção de Arlo Guthrie, “Alice’s Restaurant Massacre”, uma das mais longas da história da música folk, com 18 minutos de duração entre canto e monólogo.

Deixei para o final o melhor filme de Penn, na minha opinião: Mickey One (1965), um thriller kafkeano filmado no estilo da nouvelle vague francesa. Warren Beatty, que faz o papel-título, era apaixonado pelos filmes de Godard e Truffaut e insistia em fazer algo parecido nos EUA. Juntou-se com Penn para fazer (além de Bonnie & Clyde) este exercício surrealista que tem tinturas de Orson Welles e Fellini, e é um dos filmes mais extraordinários (no sentido de “diferente de tudo”) de sua época. Penn nunca mereceu grandes honrarias da crítica, mas por mim bastariam estes oito filmes para compor um retrato cruel e criativo do país em que foram feitos.