segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

1440) O Prêmio Nobel alternativo (25.10.2007)




(Ted Gioia)

O escritor Ted Gioia criou uma página em seu saite propondo uma questão que muita gente já se propôs: e se os vencedores do Prêmio Nobel, em vez de terem sido aqueles sujeitos obscuros que contemplamos nas estantes, tivessem sido os autores que hoje qualquer leitor mediano conhece e admira? Gosto não se discute, claro, mas a lista feita por Gioia de 1901 até 2007 nos propõe mudanças tão óbvias que chegamos a nos perguntar: “Ora, e não foi assim não?...” Começa pelo começo: em vez de Sully Prudhomme, o primeiro ganhador, teríamos Leon Tolstoi. Em 1902, em vez de Theodor Mommsen ele sugere George Meredith (pra mim, confesso, é trocar seis por meia dúzia). Mas em 1903, em vez do impronunciável Bjornstjerne Bjornson o vencedor seria Anton Tchecov; depois, em vez de Frederic Mistral e José Echegaray, venceria Julio Verne; e em 1905, em vez do Henryk Sienckewicz de Quo Vadis, o premiado teria sido Henrik Ibsen, o dramaturgo de Casa de Bonecas.

Gioia leva em conta os regulamentos do Prêmio (o autor tem que estar vivo), e os premiados que ele sugere são autores que no ano em questão já tinham uma obra consolidada e conhecida, e seriam candidatos legítimos. Não vou comentar todos os nomes (que podem ser vistos em: http://www.greatbooksguide.com/NobelPrize.html). Mas me parece que seria mesmo mais justo ter premiado Mark Twain em vez de Giosuè Carducci (1906), Henry James em vez de Maurice Maenterlinck (1911), Sigmund Freud em vez de Verner von Heidenstam (1916), Franz Kafka em vez de Jacinto Benavente (1922), Conan Doyle em vez de Grazzia Deledda (1926), G. K. Chesterton em vez de Erik Axel Karlfeldt (1931)... Não parece óbvio?

Gioia não é totalmente crítico da Academia Sueca. Muitos premiados reais são endossados por ele, como Rudyard Kipling (1907), W. B. Yeats (1923), George Bernard Shaw (1925), T. S. Eliot (1948), William Fulkner (1949)... E aqui para nós tem umas sugestões dele que eu não concordo: eu não tiraria o Nobel de Herman Hesse (1946) para premiar Hermann Broch, nem o de Bertrand Russel (1950) para dá-lo a Wittgenstein, como ele sugere.

O mais divertido é quando a lista vem se avizinhando da época atual, porque as sugestões de Gioia ficam menos convencionais. Ele sugere que em vez do poeta Derek Walcott (1992) a Academia deveria ter premiado Bob Dylan, e que em vez de Odysseus Elytis (1979) o prêmio deveria ter ido para Philip K. Dick. Premiar Hunter S. Thompson em vez de Dario Fo (1997) é uma sugestão divertida, porque o próprio Dario Fo já parece uma idéia de Gioia.

Perda de tempo, ficar discutindo isto? Não acho. Um Nobel, além do milhão e meio de dólares que concede ao premiado, premia também uma cultura, um gênero literário, um país, um mercado editorial. Ajuda a moldar e direcionar o rumo da literatura, mesmo quando o premiado se dissolve em anonimato poucos anos depois. (Alguém sabe quem foi Halldor Laxness? Foi o cara que ganhou em 1955, em vez de Bertolt Brecht).





Um comentário:

Hayaldo Copque disse...

Já que não é perda de tempo deicutir isso, insisto que Maurice Maeterlinck(1911)merecia sim o Nobel no lugar de Henry James. A questão da importância do autor é bastante relativa. Apesar de que Brecht realmente, é indiscutível.